Diário #1 - Pensamentos soltos sobre a perda

20:18 M. 0 Comments



  Sabe, eu leio muito, e em quase cem por cento das vezes acabo tendo um nível de investimento emocional preocupantemente grande com os livros, o que se torna um problema bem sério porque em quase toda história há uma perda, consequentemente fazendo com que eu tome as dores dos personagens.

   É perturbador, é doloroso, mas assim que você termina a última página sabe que o que ocorreu ali não foi com você, não foi a sua história a afetada e há ainda a segurança de que as consequências geradas não irão mudar sua vida de um modo drástico, apenas lhe ensinar coisas. Só que é bem diferente quando acontece de verdade.

   Eu nunca tinha lidado tão diretamente com a morte até esse ano, onde em quatro míseros meses perdi três alguénzinhos muito amados. As pessoas costumam comparar a morte de alguém como um rombo na alma do qual nunca nos recuperamos, já pra mim é mais parecido com aquela sensação que temos quando estávamos com algo nas mãos e no minuto seguinte não sabemos aonde está. Não entendi muito bem o porque dessa comparação surgir na minha cabeça, depois, cheguei a conclusão de que isso vem do fato de que acredito que deixamos um pedacinho nosso com cada pessoa que conhecemos e amamos, e quando elas se vão, parte nossa vai também. E tem sido assim desde a primeira experiência até essa última, só que o alívio de encontrar o que perdi nunca chega. Essa é a pior parte. Quando eu sinto saudades, automaticamente lembro que esse tipo de saudade eu nunca vou parar de sentir. E aos poucos também fica difícil lembrar como é a sensação de ter essas pessoas perto, de como era conviver. Mas talvez seja essa a beleza da coisa: a saudade constante e incurável é a forma mais simples, ainda que dolorosa, de lembrar de quem se foi.

   Apesar de tudo, não me arrependo de ter deixado partes de mim com essas pessoas assim como não me arrependo de ter ficado com partes deles. Eu sei que vou mantê-los pra sempre em algum lugar especial de mim, e que de alguma forma eles farão o mesmo.

   Mas tem sido cinza e chuvoso por enquanto.

   Minha mãe resumiu toda essa confusão em uma frase só e eu tenho concordado com ela desde então "A vida é estranha às vezes".

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